Antoine-Henri Becquerel, nascido em 15 de dezembro de 1852 em Paris, França, foi um renomado físico francês que desempenhou um papel crucial na descoberta da radioatividade, uma descoberta que transformaria a ciência do século XX. Seu trabalho nesta área o levou a dividir o Prêmio Nobel de Física em 1903 com Pierre e Marie Curie.
Ao longo da sua carreira, Becquerel demonstrou notável engenhosidade e perseverança, qualidades que o colocaram no centro de uma das mais importantes revoluções científicas do seu tempo.
Contexto familiar e educação
Becquerel veio de uma família profundamente enraizada na ciência. Seu avô, Antoine César Becquerel, e seu pai, Alexandre-Edmond Becquerel, também foram físicos proeminentes, proporcionando a Henri um ambiente em que a ciência e a pesquisa eram parte integrante da vida cotidiana. Desde cedo, Becquerel foi exposto a ideias científicas e desenvolveu interesse pela física, química e engenharia.
Depois de concluir o ensino secundário no Lycée Louis-le-Grand em Paris, Becquerel ingressou na prestigiosa École Polytechnique em 1872, onde recebeu treinamento rigoroso em matemática e ciências.
Mais tarde, continuou seus estudos na École des Ponts et Chaussées, onde se formou engenheiro civil. Ao longo da sua vida, Becquerel manteve um equilíbrio entre a sua carreira científica e o seu trabalho como engenheiro, desempenhando diversas funções no Ministério das Obras Públicas francês.
Os primeiros trabalhos científicos de Becquerel
Antes de sua descoberta da radioatividade, Antoine-Henri Becquerel concentrou grande parte de sua pesquisa em óptica, fosforescência e absorção de luz por certos materiais.
Seguindo os passos do pai e do avô, Henri estudou fenómenos relacionados com a luz e a eletricidade, explorando como certos materiais emitiam luz após serem expostos a fontes de energia. Seu pai, Alexandre-Edmond Becquerel, havia trabalhado extensivamente com a fosforescência, e Henri deu continuidade a essa linha de pesquisa, que levaria, inesperadamente, à sua descoberta mais famosa.
Em seus primeiros trabalhos, Becquerel estudou como os cristais e certos compostos químicos respondiam à luz solar e a outros estímulos energéticos.
Ele também investigou o fenômeno da fluorescência, em que certos materiais emitem luz quando excitados por uma fonte externa. Esta linha de trabalho, que inicialmente parecia ser uma extensão da pesquisa de sua família, acabaria por lançar as bases para a descoberta da radioatividade.
A descoberta da radioatividade
A descoberta da radioatividade foi a descoberta que definiria a carreira de Becquerel e ocorreu em 1896, quase por acaso.
Naquela época, Wilhelm Conrad Röntgen acabava de descobrir os raios X em 1895, descoberta que gerou grande entusiasmo na comunidade científica. Inspirado pelo trabalho de Röntgen, Becquerel começou a investigar se existiam ligações entre os raios X e certos materiais fosforescentes.
Becquerel decidiu usar sais de urânio, um composto conhecido por ter propriedades fosforescentes. Sua ideia inicial era expor esses sais ao sol, na esperança de que absorvessem a energia e emitissem algum tipo de radiação, semelhante aos raios X. Para testar sua hipótese, ele colocou os sais de urânio em placas fotográficas embrulhadas em papel preto, o que lhes permitiria. Qualquer radiação emitida pelos sais seria registrada nas placas, mas bloquearia a luz visível.
Devido a um período de mau tempo em Paris, Becquerel guardou as chapas fotográficas e os sais de urânio numa gaveta, longe de qualquer fonte de luz solar. Para sua surpresa, quando revelou as placas alguns dias depois, encontrou imagens nítidas nas placas, mesmo que não tivessem sido expostas à luz solar.
Isto indicava que os sais de urânio emitiam algum tipo de radiação penetrante sem necessidade de serem expostos à luz, uma observação completamente inesperada.
A partir desta descoberta, nosso protagonista concluiu que o urânio emitia uma forma desconhecida de radiação de forma espontânea, sem necessidade de excitação externa.
Este foi o primeiro indício do que mais tarde seria chamado de “radioatividade”, fenômeno que logo seria mais explorado por cientistas como Pierre e Marie Curie.
Impacto e desenvolvimento do conceito de radioatividade
A descoberta de Becquerel foi o início de uma nova era na física. A radioatividade, um fenômeno completamente inesperado e inexplicável na época, desafiou as teorias estabelecidas sobre matéria e energia.
Enquanto Becquerel continuava seus estudos sobre radioatividade, seu trabalho foi rapidamente complementado e ampliado por Pierre e Marie Curie, que descobriram outros elementos radioativos, como o polônio e o rádio.
Becquerel e os Curie trabalharam em paralelo para investigar as propriedades desses novos elementos e compreender melhor a natureza da radioatividade. Enquanto Marie Curie cunhou o termo "radioatividade" para descrever este fenômeno, Becquerel continuou a investigar as propriedades da radiação emitida pelo urânio e outros materiais.
Em 1900, Becquerel fez outra importante contribuição para a área ao descobrir que a radiação radioativa poderia desviar um campo magnético, sugerindo que ele consistia em partículas carregadas.
Posteriormente, descobriu-se que a radiação radioativa era composta por três tipos diferentes de partículas: partículas alfa, partículas beta e raios gama, uma distinção que seria crucial para a compreensão da natureza e dos efeitos da radioatividade.
Prêmio Nobel de Física de 1903
O impacto do trabalho de Becquerel foi reconhecido mundialmente quando, em 1903, ele recebeu o Prêmio Nobel de Física junto com Pierre e Marie Curie. O prêmio foi um reconhecimento tanto à descoberta inicial da radioatividade quanto ao trabalho posterior dos Curie na identificação de novos elementos radioativos.
A descoberta de Becquerel e os avanços dos Curie transformaram a física e a química, abrindo as portas para novas áreas de pesquisa sobre a estrutura da matéria e as forças fundamentais do universo.
A radioatividade, que inicialmente parecia ser uma curiosidade científica, logo encontrou aplicações práticas em campos tão diversos como a medicina, a energia nuclear e a datação de fósseis.
Contribuições e legado
Além de seu trabalho sobre radioatividade, Becquerel também fez contribuições significativas para outros campos da física.
Realizou estudos sobre fosforescência, absorção de luz e condução elétrica em gases, entre outros temas. Sua abordagem meticulosa e capacidade de identificar fenômenos inesperados permitiram-lhe fazer descobertas que outros poderiam ter perdido.
Apesar da importância do seu trabalho, Becquerel permaneceu relativamente afastado do destaque público que Pierre e Marie Curie experimentaram nos anos que se seguiram à sua descoberta. No entanto, seu legado científico é inegável. A unidade de medida da radioatividade, o "becquerel" (Bq), é nomeada em sua homenagem, um reconhecimento duradouro do seu impacto na ciência.
O trabalho de Becquerel não só mudou a nossa compreensão do mundo físico, mas também lançou as bases para muitos dos desenvolvimentos tecnológicos e científicos do século XX, incluindo avanços na medicina nuclear e na física de partículas.
A radioatividade, um fenômeno que ele descobriu inesperadamente, se tornaria uma das forças mais poderosas e transformadoras da ciência moderna.
Vida pessoal e morte
Ao longo da sua vida, Becquerel foi um homem profundamente dedicado ao seu trabalho, mas também manteve uma vida familiar equilibrada.
Em 1874, casou-se com Lucie Jamin, filha do físico Jules Jamin, mas Lucie morreu prematuramente em 1878, deixando-o viúvo e com um filho, Jean Becquerel, que também se tornaria um físico notável.
Becquerel continuou a trabalhar na academia e na pesquisa até seus últimos anos. Em 1895 foi nomeado membro da Academia Francesa de Ciências, distinção reservada aos cientistas de maior prestígio do país. Além disso, foi professor no Museu Nacional de História Natural de Paris, dando continuidade à tradição científica familiar que se estendeu por várias gerações.
Antoine-Henri Becquerel morreu em 25 de agosto de 1908, aos 55 anos, em Le Croisic, uma pequena comuna na costa atlântica da França. Embora sua vida tenha sido relativamente curta, suas descobertas deixaram uma marca indelével na ciência.
A radioatividade, um conceito que Becquerel descobriu quase por acidente, revolucionaria a física e a química, mudando para sempre a nossa compreensão do universo.